sábado, 2 de julho de 2011

E para onde vai a periferia?...




O destino da periferia é continuar onde está. Infelizmente as frentes de manutenção do status quo são mais efetivas, mais presentes e mais constantes do que qualquer movimento que vise sua melhoria.

Desde cedo as crianças aprendem a desrespeitar vendo a forma como os adultos se tratam nas ruas, e muitas vezes em casa. Para elas é muito mais fácil e natural gritar e xingar do que agradecer e ser educado. As músicas de duplo sentido, em sua maioria sexualmente apelativas acompanhadas de coreografias sensualmente explícitas, são as favoritas dos adultos, e consequentemente das crianças.

De forma precoce é ensinada a alienação de torcer por um time e a odiar o adversário. Esse comportamento, muitas vezes, é reproduzido na escola e enfatizado pela TV através dos programas que se dizem direcionados preferencialmente a esse público. E o ciclo não para, passando de pai pra filho que afundam-se cada vez profundamente enquanto o resto do mundo prospera.

domingo, 19 de junho de 2011

Um pouco mais de África...



Texto adaptado de
http://africandiplomacy.com

O continente africano tem uma população de mais de 920 milhões e cobre não menos do que um quinto da extensão de terra total do mundo. Isso faz dele o segundo maior e segundo continente mais populoso. A região é, também, abundante em recursos naturais, com grandes reservas de petróleo, ouro e diamante que fornecem valiosas commodities. Tais estatísticas sugerem uma região de potencial considerável e com uma base sólida para o desenvolvimento, No entanto esse potencial presente na África continua não sendo o bastante. A África vem enfrentando uma série diversa e grave de problemas que precisam ser colocados como prioridade para que o continente possa avançar. Apenas para citar alguns, pobreza extrema, corrupção, doenças e conflitos violentos representam os assuntos mais severos e urgentes.

A África se tornou a principal referência quando se fala de fome e subnutrição. O World Fact Book da CIA estima que existam aproximadamente 300 mi de pessoas vivendo na pobreza na África Subsaariana e esse quase um quarto da população de todo o continente está subnutrida.

As evidências de corrupção também são gritantes. A África desenvolveu uma reputação de regimes baseados em pagamentos informais (para não dizer subornos) em troca de vantagens. Um relatório publicado pela Transparency International mostra que 50 dos 52 estados investigados possuem níveis de corrupção que variam de sério à exorbitante. Tamanha corrupção tem um efeito negativo na expectativa de desenvolvimento, e essa é apenas uma das razões pelas quais 26 dos 27 países pior colocados no Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU (2006/2007) são africanos.

Uma das consequências desse baixo nível de desenvolvimento é a falta de instalações médicas adequadas, o que dificulta extremamente a luta contra doenças como a AIDS, cuja disseminação exige ação considerável. Hoje existem aproximadamente 22,5 mi de pessoas vivendo com HIV/AIDS na África Subsaariana, com índices de infecção que chegam a 33% em alguns países, como a Suazilândia.

Além disso, África tem sido palco de um grande número de conflitos violentos nas últimas duas décadas. Os eventos recentes no Zimbabwe e África do Sul, lutas em curso na Somália e Sudão, e tensões ferventes em um número de outros estados africanos indicam que a situação provavelmente vai piorar antes de melhorar. Não há evidências claras de que se tenha feito progresso ao ponto de assegurar que eventos sangrentos como como o genocídio de 1994 em Ruanda se repita.


África e Diplomacia Americana



A administração de Obama parece estar se movimentando mais ativamente no que tange às relações diplomáticas com a África. Mais do que uma mera resposta às críticas de líderes africanos sobre a falta de atenção de Obama, que é filho de um queniano, especialmente sobre a África Subsaariana, essa mudança enfatiza a complexidade do equilíbrio dos interesses americanos, muitas vezes contraditórios, na África.

Na semana passada a Secretária de Estado Hillary Clinton visitou a Tanzânia, Zâmbia e Etiópia, se tornando, com isso, a primeira secretária de estado a dirigir-se à União Africana. O objetivo da viagem foi enfatizar o compromisso da administração Obama com a democracia, boa governança, desenvolvimento econômico (especialmente no que tange a AGOA - African Growth and Opportunity Act) e saúde pública.

Michelle Obama, acompanhada de suas filhas e sua mãe, viajará pelo continente africano entre os dias 21 e 26 de junho, com paradas planejadas na África do Sul e em Botsuana. A viagem da primeira dama à África do Sul pretende salientar o papel da juventude Africana e sublinhar a transição democrática do país. Ela discursará no Fórum das Mulheres Líderes na África; visitará Robben Island, onde Nelson Mandela ficou encarcerado por dezoito anos; e se encontrará com o presidente sul-africano Jacob Zuma.

Recentemente o presidente Obama recebeu em Washington os presidentes Goodluck Jonathan, da Nigéria, e Ali Bongo Ondimba, do Gabão. Ambos produtores de petróleo e o último com um registro notadamente baixo de corrupção e abuso de direitos humanos. Ao contrário da agenda da primeira dama e da secretária de estado que destacavam a democracia e a boa governança, a Casa Branca relatou que o presidente Obama chamou a atenção para assuntos relacionados aos direitos humanos durante essa última reunião.


domingo, 29 de maio de 2011

40 e uns dias...

Há pelo menos seis semanas o MD não recebe uma atualização. Os motivos são os mais louváveis possíveis, dispensando desculpas. Ainda assim me sinto obrigado a dar algumas explicações.

As atualizações só podem ser feitas nos finais de semana, por conta do tempo reduzido pelo meu trabalho, mas desde as duas últimas semanas de abril não tenho comparecido no blog. O principal motivo foi o início do curso regular preparatório para o CACD, que trouxe uma carga maior de estudos e de leitura, reduzindo ainda mais meu tempo, mesmo nos fins de semana. Mas como o blog é mais um projeto do programa de estudos, não pode se deixado de lado, devendo ser assumido com seriedade.

Desde a última atualização muita coisa aconteceu no mundo. E o casamento do príncipe Williams foi, sem dúvidas, a menos importante, apesar da grande repercussão recebida. Meu último post falava sobre a crise nuclear japonesa, mas no dia seguinte à sua publicação, a Toyota retomou as atividades de 18 fábricas localizadas em diferentes áreas do Japão. Em contra partida o nível de contaminação do mar de Fukushima foi dito ser 20 mil vezes maior do que o limite, forçando as lideranças japonesas criarem uma zona proibida num raio de 20 km da usina de Fukushima.

Do outro lado do mundo, n'outro oceano, n'outra ilha também vítima de um terremoto, um cantor pop foi nomeado presidente após eleições marcadas por fraudes, atrasos e confrontos. Michel Martelly, que mostra em seus clips ter um certo molejo, vai agora ter que rebolar de outro jeito. Reconstruir o Haiti, destruído por um terremoto de magnitude 7 que deixou aproximadamente 300 mil mortos e milhares de desabrigados, vai exigir do presidente muito jogo de cintura e um orçamento multibilionário. Some-se a isso uma epidemia de cólera que assola o país.

No mundo árabe os conflitos se seguem. Alguns como resultado desse movimento de sob-elevação democrática contra regimes totalitário; e outros por disputas territoriais milenares. Em meio a esses embates as tropas da OTAN atacam o complexo residencial de Kadafi, algumas vezes, acertam alvos militares líbios e outras vezes atingem, acidentalmente, os rebeldes e civis. Na Síria observa-se um aumento do apoio iraniano às ações do governo de Bashar Assad. E no Iêmen as tropas de Ali Abdullah Saleh abrem fogo contra manifestantes em um massacre marcado pela aleatoriedade das ações militares, aumentando a revolta popular e intensificando o ódio contra o governo que se recusa a deixar o poder que exerce há 33 anos.

E nesse meio tempo, um dos acontecimentos mais importantes da história mundial foi, sem dúvidas, a morte do "terrorista mais procurado do mundo" Osama bin Laden. Sem maiores detalhes. Acredito que, longe de se esgotar, o assunto já teve demasiado espaço na mídia. O termo "morte de bin Laden" colocado na barra de busca do Estadão resultou, até esta data, em 649 artigos relacionados.

Sem a pretensão de abarcar tudo o que acontece na cena internacional, mas com o desejo de chegar perto, tentarei trazer informações relevantes e interessantes não só para os que pretendem seguir uma carreira internacionalista, como também para os interessados no que acontece no mundo.

Obrigado.

domingo, 17 de abril de 2011

E Fukushima Daiichi como anda?...



O drama japonês parece estar longe de ser resolvido. Segundo informações da CNN, os engenheiros responsáveis em resolver a crise nuclear japonesa precisarão de pelo menos nove meses para desativar completamente os reatores que foram danificados da usina nuclear de Fukushima Daiichi, cenário do pior acidente nuclear desde Chernobyl.

Serão necessários três meses para baixar os níveis de radiação e restaurar o sistema de resfriamento da usina, como foi informado por Tsunehisa Katsumata, presidente da Tokyo Electric Power Co. Segundo ele, para que os reatores alcancem temperatura ideal para desativação, precisarão de mais três meses.

O plano anunciado no domingo foi a primeira agenda que a Tokyo Electric revelou para frear a crise em Fukushima Daiichi.

Há cinco dias o Primeiro Ministro Naoto Kan havia pedido à Tokyo Electric que desenvolvesse uma agenda para por um fim nesse desastre causado pela tsunami que seguiu o terremoto de 11 de março.

Texto adaptado por Rogerio Silva de http://news.blogs.cnn.com/2011/04/17/japan-plant-owner-at-least-9-months-before-end-to-nuclear-crisis/

sábado, 16 de abril de 2011

E como vai a África essa semana?...²




Nigéria

Os nigerianos irão às urnas esse final de semana para as eleições presidenciais após terem votado para a Assembléia Nacional no último sábado. O comparecimento dos eleitores parece ter sido surpreendentemente baixo em muitas partes do país. No entanto não se sabe se isso foi reflexo da votação ter sido adiada por uma semana, preocupados com a violência, ou é uma relativa indiferença aos resultados das eleições da Assembléia Nacional. Certamente, o interesse será maior para a disputa para a presidência e para governador.


Costa do Marfim

Alassane Ouattara tomou custodia de Laurent Gbagbo na segunda-feira e acabou com o impasse em Abidjan. Como Ouattara assume controle total sobre a Costa do Marfim, ele terá que negociar numerosos assuntos relacionados ao país, incluindo a potencial investigação da Corte Criminal Internacional. As nuances do conflito do país e as potenciais ramificações da intervenção estrangeira para derrubar Gbagbo continuam sendo discutidas – apesar de alguns pontos convincentes apontarem para um retorno calmo para Abidjan, o futuro da Costa do Marfim ainda continua incerto.


Uganda

Em Uganda as passeatas e os prootestos continuaram ontem em Kampala e outras cidades pelo país. Informações indicam que a polícia feriu o principal líder da oposição, Kizza Besigve com um tiro de bala de borracha, e as autoridades prenderam mais de 220 pessoas sob acusações que variam desde obstrução do tráfego, passando por organização de reuniões ilegais, até fomentação de violência. Balas de borracha, gás lacrimogêneo e equipamentos de força similares sugerem que o governo de Museveni está nervoso. Mas, até esse ponte, não está claro se essas demonstrações constituem um desafio sério para Museveni.


Quênia

Há rumores sobre a formação de uma nova aliança política se formando para as eleições de 2012. No mais, como a vizinha Uganda vem experimentando demonstrações populares relacionadas ao aumento dos preços dos combustíveis e dos alimentos, dados de uma pesquisa demonstram que os quenianos podem estar preocupados com assuntos similares em seu país: a maioria dos entrevistados (33%) apontou os preços dos combustíveis, dos alimentos e a pobreza como “os principais problemas” enfrentados pelo país. No entanto, não há indicações de que os eventos em Uganda se repetirão no Quênia.


Textos adaptados por Rogerio Silva de http://blogs.cfr.org/campbell/2011/04/15/what-were-watching-in-africa-this-week-5/

Será o fim dos velhos Cadillacs de Havana?...



Essa semana o Partido Comunista Cubano está em reunião pela primeira vez desde 1997. Em sua reunião inaugural como presidente, espera-se que Raul Castro proponha algumas reformas radicais, que incluem a permissão de venda de casas e acabar com o banimento da venda de carros. Isso significará o fim do Cadillac como rei das ruas cubanas? Segundo o mecânico Jorge Prats “esses carros são parte de nossa identidade nacional – como feijão, arroz e carne de porco”. “Cuidamos desses carros velhos americanos como se fossem membros da nossa família”, continua. Atualmente, só os privilegiados podem possuir carros em Cuba. Isso inclui artistas, atletas e médicos que tenham trabalhado fora do país.


Os cubanos adoram os carros americanos e possuem muitos deles – Cadillacs, Chevys, Edsels e Packard. Após a revolução de 1959, todos os fabricantes americanos pararam de vender seus carros para Cuba como parte do embargo dos EUA. Antes da revolução Cuba era o maior importador dos carros americanos. Hoje, só os carros comprados antes da revolução podem ser comercializados livremente em Cuba. Existem, atualmente, cerca de 150.00 carros americanos pré-1960 rodando em Cuba. E os mecânicos cubanos se tornaram uma lenda por suas inovações, conversões nos motores a diesel, improvisando peças sobressalentes, tudo para manter os carros rodando.


O governo cubano capitaliza essa nostalgia que satura as ruas de Havana permitindo que os turistas aluguem conversíveis antigos para passear pela cidade. Mas romantizar a fantasia de carros clássicos americanos é o mesmo que romantizar a época do embargo comercial imposto pelos EUA. E os cubanos preferem os carros fabricados nesse século.


Por traz das mudanças que atingem esse ícone, que simboliza o próprio regime cubano, existem questões muito mais complexas e não tão românticas.


Vale à pena relembrar algumas coisas para entender o escopo dessa nova “revolução”: em 2006, quando Fidel adoeceu, o poder provisório sobre Cuba foi passado para seu irmão mais novo Raul. Dois anos depois Raul é apoiado pela Assembléia Nacional para se tornar o novo presidente. Ele começa, então, a tomar controle do país para ter uma idéia de sua agenda de reformas, sobre quais áreas seriam seu ponto de partida. Nesses dois anos ele tem se concentrado em reformas econômicas, que significariam consequentemente reformas políticas, mas não seriam reformas políticas de forma estrita. O discurso cubano muda de tom e passa a adotar termos como produtividade e eficiência, abandonando a premissa de um estado que paga por tudo onde ninguém trabalha. A igualdade de oportunidades substitui a atual igualdade de bens para todos.


O mais importante é que no final do dia a principal prioridade do governo cubano é doméstica: criação de empregos, produtividade, educação, infraestrutura e uma revisão da expectativa popular sobre o que o estado pode ou não pode fazer.


Esse texto contem trechos traduzidos por Rogerio Silva de http://www.cfr.org/cuba/cubas-reform-minded-party-congress/p24682 e http://www.foreignpolicy.com/articles/2011/04/15/buena_vista_auto_club