
Nos últimos dias o velho debate sobre a utilização de fontes renováveis de energia, e sua potencial capacidade para substituir fontes baseadas em energia nuclear, por exemplo, ganhou força e atenção. Talvez o principal fator motivador dessa guinada tenham sido os sucessivos problemas envolvendo o Japão após o terremoto, seguido de tsunami, que, além de devastar cidades da costa norte, trouxe problemas relacionados à desestabilização da usina nuclear de Fukushima Daiichi e consequente vazamento de material radioativo.
A questão é tão controversa, que até mesmo um importante ambientalista britânico, George Monbiot, expressou apoio à utilização de energia nuclear após os acontecimentos no Japão.
Segundo ele:
Uma usina velha, dotada de recursos de segurança insuficientes foi atingida por um monstruoso terremoto. As redes de energia falharam, derrubando o sistema de refrigeração. Os reatores explodiram. O desastre expôs um legado conhecido, de projetos deficientes e o uso de gambiarras para reduzir custos. Mas, pelo menos até onde sabemos, ninguém recebeu uma dose letal de radiação.
Um estudo realizado pelo Centro para Estudos Geoeconômicos do Council of Foreign Ralations (cfr.org) revela algumas consequências, em forma de reações imediatas tomadas por alguns países frente à situação japonesa.
Segue abaixo um resumo desse estudo.
A crise da indústria nuclear japonesa está fazendo crescer a preocupação global sobre a segurança e viabilidade do uso de energia nuclear. Em resposta a China parou seu programa de desenvolvimento de reatores nucleares, enquanto a Alemanha desligou sete reatores e iniciou uma moratória de três meses sobre um programa que pretendia aumentar o tempo de funcionamento de instalações já existentes. O Chanceler Merkel disse que a mudança na política foi necessária para permitir que o país “alcance a era da energia renovável o quanto antes”.
Mas o Secretário de Energia dos EUA, Steven Chu, parece ter jogado um balde de água fria nessa visão: “pensamentos desejosos sobre alternativas milagrosas não aquecerão nem esfriarão nossas casas, ou nos levarão onde precisamos ir, tampouco suprirão energia aos negócios que geram empregos.” Chu certamente não está totalmente equivocado. Se o mundo tivesse que manter o uso de energia nuclear nos níveis atuais, a oferta de energia renovável teria que dobrar até o ano de 2035 para satisfazer, sozinha, à necessidade de consumo atuais. Se tivéssemos que parar totalmente de utilizar energia nuclear, a oferta de energia renovável teria que triplicar até 2035 para satisfazer essa necessidade de consumo.
Para tornar reais essas taxas de crescimento dos renováveis, historicamente sem precedentes, uma grande variedade de tecnologias teria que ser explorada, uitas das quais serão muito caras para um futuro próximo. Energia eólica no litoral, que poderia satisfazer a parte da necessidade, está entre as mais baratas custando $83 por megawatt hora, comparado com $70 para o carvão e apenas $60 para o gás natural. Energia solar é ainda 3-4 vezes mais, $224.
Portanto, não é surpresa que governos tiveram que subsidiar projetos com renováveis que chegaram a soma de $57 bilhões em 2009, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IAE). Até novembro do ano passado, a IAE tinha expectativa de que esse valo quadruplicasse chegando à $205 bilhões até 2035. Mas com os países ricos em redução de custos, tamanho investimento parece improvável. O governo britânico recentemente anunciou que, na verdade, planeja cortar os subsídios de projetos em energia solar.
Para ser breve, afastar-se da energia nuclear é improvável para alimentar a revolução verde que muitos esperam.
Tradução: Rogerio Silva.
Post original: http://blogs.cfr.org/geographics/2011/03/24/energy-growth/
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Todo esse debate, motivado pela situação do Japão, parece não estar levando em consideração o fato de lá em 1972 as autoridades de Fukushima Daiichi terem sido avisadas, por inspetores de segurança da Comissão de Energia Atômica das Américas, sobre a vulnerabilidade e os riscos de explosão e vazamento de material radioativo no caso de uma fusão nuclear em reatores do tipo General Eletric, tradicionalmente caracterizados por suas grandes abóbodas de contenção.
Reatores nucleares como o mesmo design estão sendo largamente utilizados na América. Dos 104 em atividade atualmente, 23 são exatamente iguais aos das instalações de Fukushima.
Alguns desses reatores já estão alcançando os 40 anos de vida útil, no entanto políticos vêm brigando para aumentar seu tempo de operação. Um deles está em Vermont Yankee, que teve sua licença de funcionamento renovada por mais 20 anos pela Comissão Reguladora de Energia Nuclear dos EUA. Após o incidente no Japão a licença foi revogada e a usina foi desativada.
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