domingo, 27 de março de 2011

Fontes Renováveis Vs. Energia Nuclear...



Nos últimos dias o velho debate sobre a utilização de fontes renováveis de energia, e sua potencial capacidade para substituir fontes baseadas em energia nuclear, por exemplo, ganhou força e atenção. Talvez o principal fator motivador dessa guinada tenham sido os sucessivos problemas envolvendo o Japão após o terremoto, seguido de tsunami, que, além de devastar cidades da costa norte, trouxe problemas relacionados à desestabilização da usina nuclear de Fukushima Daiichi e consequente vazamento de material radioativo.

A questão é tão controversa, que até mesmo um importante ambientalista britânico, George Monbiot, expressou apoio à utilização de energia nuclear após os acontecimentos no Japão.

Segundo ele:

Uma usina velha, dotada de recursos de segurança insuficientes foi atingida por um monstruoso terremoto. As redes de energia falharam, derrubando o sistema de refrigeração. Os reatores explodiram. O desastre expôs um legado conhecido, de projetos deficientes e o uso de gambiarras para reduzir custos. Mas, pelo menos até onde sabemos, ninguém recebeu uma dose letal de radiação.

Um estudo realizado pelo Centro para Estudos Geoeconômicos do Council of Foreign Ralations (cfr.org) revela algumas consequências, em forma de reações imediatas tomadas por alguns países frente à situação japonesa.

Segue abaixo um resumo desse estudo.

A crise da indústria nuclear japonesa está fazendo crescer a preocupação global sobre a segurança e viabilidade do uso de energia nuclear. Em resposta a China parou seu programa de desenvolvimento de reatores nucleares, enquanto a Alemanha desligou sete reatores e iniciou uma moratória de três meses sobre um programa que pretendia aumentar o tempo de funcionamento de instalações já existentes. O Chanceler Merkel disse que a mudança na política foi necessária para permitir que o país “alcance a era da energia renovável o quanto antes”.

Mas o Secretário de Energia dos EUA, Steven Chu, parece ter jogado um balde de água fria nessa visão: “pensamentos desejosos sobre alternativas milagrosas não aquecerão nem esfriarão nossas casas, ou nos levarão onde precisamos ir, tampouco suprirão energia aos negócios que geram empregos.” Chu certamente não está totalmente equivocado. Se o mundo tivesse que manter o uso de energia nuclear nos níveis atuais, a oferta de energia renovável teria que dobrar até o ano de 2035 para satisfazer, sozinha, à necessidade de consumo atuais. Se tivéssemos que parar totalmente de utilizar energia nuclear, a oferta de energia renovável teria que triplicar até 2035 para satisfazer essa necessidade de consumo.

Para tornar reais essas taxas de crescimento dos renováveis, historicamente sem precedentes, uma grande variedade de tecnologias teria que ser explorada, uitas das quais serão muito caras para um futuro próximo. Energia eólica no litoral, que poderia satisfazer a parte da necessidade, está entre as mais baratas custando $83 por megawatt hora, comparado com $70 para o carvão e apenas $60 para o gás natural. Energia solar é ainda 3-4 vezes mais, $224.

Portanto, não é surpresa que governos tiveram que subsidiar projetos com renováveis que chegaram a soma de $57 bilhões em 2009, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IAE). Até novembro do ano passado, a IAE tinha expectativa de que esse valo quadruplicasse chegando à $205 bilhões até 2035. Mas com os países ricos em redução de custos, tamanho investimento parece improvável. O governo britânico recentemente anunciou que, na verdade, planeja cortar os subsídios de projetos em energia solar.

Para ser breve, afastar-se da energia nuclear é improvável para alimentar a revolução verde que muitos esperam.

Tradução: Rogerio Silva.

Post original: http://blogs.cfr.org/geographics/2011/03/24/energy-growth/

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Todo esse debate, motivado pela situação do Japão, parece não estar levando em consideração o fato de lá em 1972 as autoridades de Fukushima Daiichi terem sido avisadas, por inspetores de segurança da Comissão de Energia Atômica das Américas, sobre a vulnerabilidade e os riscos de explosão e vazamento de material radioativo no caso de uma fusão nuclear em reatores do tipo General Eletric, tradicionalmente caracterizados por suas grandes abóbodas de contenção.

Reatores nucleares como o mesmo design estão sendo largamente utilizados na América. Dos 104 em atividade atualmente, 23 são exatamente iguais aos das instalações de Fukushima.

Alguns desses reatores já estão alcançando os 40 anos de vida útil, no entanto políticos vêm brigando para aumentar seu tempo de operação. Um deles está em Vermont Yankee, que teve sua licença de funcionamento renovada por mais 20 anos pela Comissão Reguladora de Energia Nuclear dos EUA. Após o incidente no Japão a licença foi revogada e a usina foi desativada.

sábado, 26 de março de 2011

E como vai a África essa semana?...




O contexto mundial atual, globalizado e multilateral, vem promovendo uma série de eventos de caráter sócio-político, que desperta a atenção de autoridades e instituições representativas mundiais, jornais e do público de uma forma geral.
O mundo assistiu ansioso aos episódios que levaram à derrubada dos governos ditatoriais da Tunísia e do Egito. Como consequência, talvez não direta, mas com forte poder motivacional, dos movimentos populares de seus vizinhos, agora a Líbia enfrenta uma crise política na qual o povo se levanta para derrubar uma ditadura, que já dura quatro décadas, liderada por Muammar Gaddafi.
O movimento, desde a aprovaçao da resolução 1947, que exige cessar fogo imediato das tropas de Gaddafi, se transformou em uma guerra e os erros e quase-acertos das tropas de coalisão vêm chamando a atenção do mundo.
Essa atenção, no entanto, precisa ser dividida com outros países africanos que enfrentam diariamente problemas sócio-políticos internos, mas que têm consequências globais em muitos áreas, sobretudo direitos humanos.
Um breve passeio pelos jornais africanos, em especial o Sahara Reporters, é o bastante para mostrar o quão conturbados são países como a Nigéria e a Costa do Marfin. Vejamos:

Nigéria: Violência política tem sido uma das principais características das eleições nigerianas. E campanha para as votações do mês que vem não estão sendo diferentes. Só para citar alguns exemplos, a polícia matou pelo manos seis nigerianos no último comício para o candidato a presidente Muhammad Buhari do CPC (Congress for Progressive Change). A segurança oficial utilizou munição real no evento realizado em Jos, sob a justificativa de que pretendia evitar um tumulto mortal similar ao desastre ocorrido em 12 de fevereiro em Pourt Harcourt, onde mais de vinte pessoas morreram. No entanto, os partidários de Buhari acreditam que o uso da força teve motivação política. No estado litorâneo de Akwa Ibom, em 23 de março, foram registrados casos de violência relacionada às eleições entre representantes do Partido Democrático do Povo (PDP), atualmente no poder, e partidários da oposição, deixando um saldo de pelo menos doze mortos e danos consideráveis à propriedades. A mídia ocidental parece ignorar a crescente violência. Porém, a matança nessas eleições da Nigéria se compara aos conflitos da Costa do Marfim e da Líbia. Já está mais do que na hora de virarmos nossa atenção ao que acontece na Nigéria.

Costa do Marfim: Há um sinal desanimador de aumento do conflito na Costa do Marfim, além de temores de instabilidade subsequente na região. A Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim reporta que Laurent Gbabgo adquiriu não apenas um helicóptero de ataque MI-24, mas também lançadores de foguetes BM-21. O número de mortos e pessoas expulsas do país (IDPs) continua a crescer: foram confirmadas 462 mortes desde dezembro de 2010, e relatórios recentes de funcionários da ONU no local sugere que o conflito criou quase um milhão de IDPs. A violência no país também não opera no vácuo. António Guterrea, o Embaixador das Nações Unidas para Refugiados, alerta que o conflito pode afetar o processo de paz da vizinha Libéria, que ainda se recupera de suas duas guerras civis.

Textos traduzidos por Rogerio Silva.



domingo, 20 de março de 2011

Estreitando os Laços entre Brasil e EUA...



A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil foi marcada por muita especulação, expectativa, alguns constrangimentos e tímidos ensaios de protesto reprimido, sem grandes problemas pela polícia local. No entanto a marca que ficou foi a do simbolismo que essa viagem representa tanto para o presidente americano quanto para a presidente Dilma Rousseff.

Dilma e Obama são representantes de dois grupos socialmente discriminados em ambos os países, o que dispensa maiores explicações do quão significativo é esse encontro do primeiro presidente negro dos Estados Unidos com a primeira presidenta do Brasil. Além disso, o encontro acontece no qüinquagésimo aniversário da Aliança para o Progresso, projeto lançado em 1961 pelo presidente John F. Kennedy com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico da America Latina a partir de colaboração técnica e financeira.

O fato de ser a primeira vez que um presidente americano pisa em solo brasileiro antes de receber a visita do representado do Brasil em seu país aumenta ainda mais a esfera de expectativa que ronda a visita.

Em entrevista concedida ao cfr.org, Matias Spektor, professor assistente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, fala sobre um possível estreitamento das relações entre os dois países e no compromisso com seu sucesso mútuo.

Seguem alguns trechos da entrevista...

No sábado, Presidente Obama faz sua primeira viagem para a America Latina. Qual o significado dessa viagem?

No que se refere ao Brasil, essa viagem é vista como incrivelmente importante por acontecer depois de muitos anos de uma relação que já estava, até certo ponto, deteriorada decido ao choque de interesses em assuntos como as mudanças climáticas, comércio, o programa nuclear iraniano e o golpe em Honduras. Nem o Brasil, tampouco os EUA, encontrou uma atmosfera para lidar com o fato de que, no cenário mundial atual, o Brasil é uma potência ascendente com maior responsabilidade internacional. Os dois países precisam encontrar um novo discurso se quiserem que essa relação funcione sob essas novas condições; isso não aconteceu ainda. Essa visita pode ser o início de um tipo de diálogo que precisamos ver.

Quanto desse diálogo depende de Dilma Rousseff como a nova líder do Brasil? Isso de fato levará a uma potencial mudança de diálogo?

A chegada de Dilma ao poder marca uma mudança de estilo. Ela tem sinalizado que deseja restaurar a atmosfera positiva de aliança com os EUA. O outro elemento que considero relevante tem relação com política externa americana: a compreensão de que é importante para os EUA alcançar os países emergentes e tentar encontrar um terreno em comum com eles, mesmo se essa relação tenha uma breve história de contato sustentado.

Quais serão as prioridades de Obama no Brasil?

Ambos os lados assinarão uma série de acordos em questões diversas que variam desde espaço, ciência e tecnologia, até comércio e vistos.

O simbolismo do primeiro encontro entre o presidente americano negro e a presidenta que passou parte de sua vida na prisão sob uma ditadura militar é, também, incrivelmente poderoso. Se há uma coisa que une o Brasil e os EUA no século 21 é o fato de que se tratam de duas grandes democracia multiétnicas. Os dois presidentes representam isso de forma muito significante. Parte da agenda será para tornar esse gesto explícito.

E finalmente para enfatizar que para os EUA um Brasil crescente representa boas notícias. Pela mesma razão, para enfatizar que, para um Brasil emergente, ter um bom acesso a Washington é necessário.

Como a influência da China cresce na America Latina, de que forma essa relação com o Brasil afeta a relação EUA-Brasil?

A China tomou o lugar dos EUA como o parceiro comercial número um do Brasil nos últimos anos. Como o Brasil cresce, ele se encontrará em desacordo com algumas posições da China. Nesse mundo é crucial para o Brasil que ele tenha fácil acesso aos níveis mais elevados nos EUA. Pela mesma razão, como os EUA lidam com esse novo mundo no qual a China cresce dramaticamente, ter um parceiro como o Brasil será sempre mais importante para o entendimento e tratamento com a China. Então a posição da China está empurrando ambos, Brasil e EUA, em direção um do outro um pouco mais. Isso não significa que eles se unirão contra a China de qualquer modo. Eu não acho que o Brasil, tampouco os EUA, gostaria de se prestar a esse papel.

Quando Obama visitou a Índia em 2010, ele apoiou a candidatura desse país a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Qual a probabilidade de ele apoiar a candidatura do Brasil a um assento permanente em sua visita?

Quando o Ministro das Relações Exteriores do Brasil Antonio Patriota foi a Washington três meses atrás encontrar a Secretaria de Estado Hillary Clinton, ela usou uma linguagem bastante prática. Ela disse que os EUA desejam engajar-se com o Brasil em um diálogo construtivo sobre a reforma do Conselho de Segurança. Eu não acho que ninguém espere realmente que Washington declare algo a respeito do que Obama disse na Índia. Mas há uma expectativa em Brasília – e eu acho que seja real – de que os EUA mostrarão que desejam falar sobre o assunto e começar o processo pelo qual os dois países ditam a questão.

As relações EUA-Brasil, nesse ponto, são mais distantes do que elas são entre os EUA e a Índia. Mas talvez um dos resultados que virão com essa visita seja a decisão de ambos os lados, no mais elevado nível, de começar a falar no assunto. Isso seria muito bem vindo no Brasil.

O que você vê como a coisa mais importante a resultar dessa visita?

A coisa mais importante seria ter os dois presidentes dizendo, claramente em alto e bom tom, que eles apreciam não apenas os países um do outro, mas que o sucesso do país do outro é de seu interesse nacional. O argumento de que um Brasil poderoso, emergente e bem-sucedido é bom pros EUA não é óbvio em Washington. Muita gente não pensa assim. Mas, pela mesma razão, encontramos alguns em Brasília que pensam que um mundo com mais limites para o que os EUA podem fazer não é, necessariamente, uma coisa ruim para o Brasil. Eles precisam um do outro para lidar com os problemas intimidadores que exigem uma profunda cooperação no século 21: mudança climática, comércio, estabilidade financeira, segurança alimentar. Todos esses são questões sobre as quais não se pode chegar a um acordo sem ter Brasil e EUA na mesa. Eles precisam dizer isso.

Para a entrevista na íntegra acessar:http://www.cfr.org/brazil/toward-new-ties-brazil/p24424

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E parece que de fato a visita não ficará apenas nos discursos descontraídos e recheados de elogios. Entre um discurso e outro do Presidente Obama, seus representantes assinavam novos acordos e renovavam acordos já existentes como uma prova de que as relações entre os dois países estão tomando um rumo mais promissor.

Dentre os muitos acordos firmados destacam-se (além dos mais citados pela imprensa como o apoio a grandes eventos esportivos como a Copa de 2014 e o Jogos Olímpicos de 2016) a Parceria para o Desenvolvimento de Biocombustíveis de Aviação, a Cooperação nos Usos Pacíficos do Espaço Exterior, Protocolo de Intenções sobre a ampliação de atividades de Cooperação Técnica em Terceiros Países.

Uma das questões que causaram grande expectativa com a visita de Obama foi a emissão de vistos de entrada para os EUA. Ele chegou a comentar sobre o assuntos em um de seus discursos para empresários brasileiros e americanos. O tema, entretanto, ficou de fora dos acordos e protocolos celebrados pelos dois governos.

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Para lista de todos os acordos firmados acessar: http://www.itamaraty.gov.br/


domingo, 13 de março de 2011

Fora da África...Pra longe daqui...

Os levantes contra as ditaduras que antes dominavam o mundo árabe têm feito o mundo ocidental lançar seu olhar para aquele lado sob diversas perspectivas. Alguns analisam os possíveis efeitos econômicos das trocas de regime e transições de governo; o status das relações bi ou multi-laterais construídas até então. Mas talvez nenhuma dessas análises chame mais a atenção quanto o impacto desse movimento revolucionário nas populações envolvidas, direta ou indiretamente, com esses levantes.

Do ponto de vista diplomático, qual deve ser a posição adotada pelos países desenvolvidos vizinhos dessas áreas em crise? Até que ponto é interesse dos países desenvolvidos apoiarem esses países em crise? E quais as conseqüências dessa troca?

Sem a pretensão de querer responder a todas essas perguntas e com o objetivo de levantar o debate apenas sob uma perspectiva, trago a tradução de trechos de um artigo, originalmente publicado na revista Foreign Affairs por Behzad Yaghmaian. Na oportunidade o autor trata do temor da invasão de imigrantes originários da África por parte dos europeus. Salta aos olhos a forma como a Itália negociou com a Líbia, sob o regime de Qaddafi, para que esse policiasse o trânsito de africanos para aquele país em troca de investimentos econômico e suprimento bélico, por exemplo.

“Enquanto quase todo o mundo celebra as revoluções que varreram a Tunísia, Egito, e recentemente a Líbia, a Europa está assistindo com ansiedade, temendo um influxo de imigrantes africanos. Já nas ultimas semanas mais de cinco mil tunisianos cruzaram o Mar Mediterrâneo em barcos e chegaram à costa da Itália. Um número menor, porém significante, de egípcios fugiram para a Europa. E mais de cem mil líbios e trabalhadores migrantes do leste da Ásia deixaram a Líbia em direção ao Egito e à Tunísia. Mas esses africanos do norte não são a principal preocupação da Europa. Na verdade seu maior temor é um êxodo em massa de africanos subsaarianos através das fronteiras despoliciadas do norte da África.

Na última década, os países europeus começaram a suplementar o controle de suas próprias fronteiras com portões externos e entrando em acordo com ditadores do norte da África. Em 2003, em um acordo com a Espanha, autoridades marroquinas prometeram cooperar completamente com o controle da migração em troca de ajuda de $390 mi. Desde os anos de 1990, o então presidente da Tunísia Zine el-Abidine Ben Ali ajudou a diminuir o transito de migrantes por seu país em troca de cooperação econômica e preferência em transações comerciais.

A cooperação entre a Itália e, sua antiga colônia, a Líbia era particularmente intensa. Em 2004, num acordo bilateral, o líder líbio Muammar al-Qaddafi concordou em ajudar a prevenir que migrantes africanos subsaarianos utilizassem a Líbia como país de trânsito. Pressionada pela Itália, a União Européia suspendeu sanções econômicas e um embargo bélico contra a Líbia que já durava quase vinte anos. O fim do embargo permitiu que a Itália suprisse a Líbia com equipamentos de última geração necessários para desacelerar a migração ilegal.

A relação entre Itália e Líbia culminou em 2008 em um “pacto de amizade” no qual ambos se comprometeram em aumentar a cooperação na luta contra o terrorismo, crime organizado, tráfico de drogas, e imigração ilegal. Qaddafi concordou em impedir que os migrantes africanos saíssem da Líbia para a costa italiana, além de receber aqueles interceptados no mar Mediterrâneo. O preço por esse serviço foi $5 bilhões em investimento italiano na Líbia e seis barcos de patrulha para policiar as águas entre a África e Europa.”

Para ler ao artigo na íntegra (em inglês) acessar http://www.foreignaffairs.com/articles/67566/behzad-yaghmaian/out-of-africa

O Tsunami da Costa Japonesa.


Postado originalmente por Sheila A. Smith (http://www.cfr.org/japan/costs-japans-tsunami/p24359)

Traduzido por Rogerio Silva.

O terremoto de magnitude 8,9 que atingiu a costa japonesa na última sexta-feira, causando um tsunami, é o pior desastre natural na história moderna dessa nação propensa aos tremores de terra. O leste da costa do país, de Hokkaido até Okinawa, continua sob alerta de emergência para outro tsunami e tremores.

Parece que essa será uma operação de ajuda humanitária de proporções épicas. Informações sobre a extensão total dos danos continuam escassas, e notícias sobre as vítimas começam agora a chegar. A região nordeste de Tohoku parece ser a mais atingida; a cidade de Sendai, com uma população de 2,3 mi foi completamente devastada; e a polícia já está confirmando centenas de mortos. Regiões do norte noticiaram que um tsunami de mais de 10 metros varreu quilômetros da ilha e devastou uma grande faixa da área costeira do Japão. Foram reportados incêndios por várias cidades da província de Miyagi.

Tendo dificuldades com um já prolongado processo de transição política, o governo japonês será testado de forma extrema por esse desastre. Em 1995 a resposta do governo foi severamente criticada, por ter sido muito lenta e parcial, quando um terremoto de magnitude 6,9 atingiu Kobe.

Mas dessa vez sua resposta tem sido rápida e abrangente. O governo mobilizou mais de dez mil homens da Força de Auto-Defesa, bem como a Guarda Costeira e times de resposta a incêndios e desastres numa operação de gigantesca de auxílio. Centenas de aeronaves militares e mais de sessenta navios estão posicionados no norte do Japão para operações de auxílio. Todas as principais rodovias que levam ao norte foram reservadas para uso de emergência e muitas organizações estão rapidamente consolidando suprimentos de emergência.

O impacto na economia japonesa será devastador. A bolsa de valores de Nikkei já começou a cair de forma íngreme nessa que é a terceira maior economia mundial. O estouro econômico em longo prazo será significante, especialmente para um país que já está se esforçando para diminuir seu déficit orçamentário, que se encontra perto dos 10% de seu PIB. Os danos do terremoto de 1995 em Kobe custaram aos cofres japoneses U$ 132 bi, sendo considerado o desastre natural mais caro do mundo.

Outra preocupação é o perigo potencial das instalações nucleares de Fukushima Daiichi, e uma evacuação de emergência foi ordenada para todos a três quilômetros das instalações. Enquanto todas as outras instalações nucleares do Japão foram fechadas automaticamente, e a essa altura não representam nenhum risco, o governo declarou emergência de segurança nuclear por precaução.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Por que um Diplomata?


Certa vez comentei com um amigo que estava em dúvidas sobre qual carreira seguir: "acredite quando te dizem que a melhor profissão é aquela que, quando exercida com afinco, proporciona prazer e satisfação pessoal". Algumas pessoas já sabem desde cedo o que querem ser "quando crescer" e caminham ao encontro desse objetivo. Outras agarram-se às oportunidades que aparecem em sua frente e muitas vezes acabam encontrando o que nunca tinham procurado, se realizando pessoal e profissionalmente. Acho que me identifico mais com o segundo grupo.

Quando ingressei no curso de Letras queria ser tradutor e pesquisador literário. Ter me tornado professor foi uma consequência do conjunto de circunstâncias que o curso apresenta, mas foi como professor que sempre me realizei, atuando na área desde o início da graduação. Ainda na universidade participei, pela primeira vez de forma ativa, de movimentos político-estudantis em prol dos nossos interesses. Foi então que o desejo e interesse de atuar na vida política do meu país se apresentou da forma mais legítima e ingênua. Legítima porque não lembro ter experimentado tamanho sentimento cívico; Ingênua porque aprendi que por trás daquela luta, aparentemente desprendida, pairava a sombra dos interesses pessoais-partidários que sempre condenei e considero como grande culpado do atraso de nossa política. Essa decepção me desligou do movimento estudantil, me fazendo concentra-se na atuação em pesquisa e extensão. E essa atuação na extensão me levou até o Núcleo de Estudos Canadenses e à Assessoria de Intercâmbio da universidade onde, dentre outras coisas, atuei defendendo os nossos interesses frente à comunidade internacional.

A essas duas atividades, a primeira de caráter primordialmente político e a outra com forte teor político-burocrático, atribuo a origem do desejo de atuar como diplomata.

Viver no contexto global atual, frente à necessidade dos Estados de se relacionarem entre si multi e/ou bilateralmente e não ser sensível a esse movimento é praticamente impossível. A maioria das pessoas acompanha o destino do mundo através dos meios de comunicação. Outros fazem parte desse movimento ajudando nas tomadas de decisão que definem o curso da história. É neste último grupo onde quero figurar, sendo um elemento essencial na construção do futuro do meu país.

Na Entrevista Técnica do “Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco – Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia” fui arguido sobre os motivos que me levaram a escolher atuar como diplomata: "Por que um diplomata?", disse a entrevistadora. Apesar de estar tomado por um tremor, comum às entrevistas de trabalho, respondi com firmeza e objetividade: "Porque quero ser representante político do Brasil sem ter que me filiar a nenhum partido". Um ser político segundo o conceito aristotélico e inerentemente humano de política.